Por muito que se goste de algo ou alguém,
não se pode esquecer que a vida é um constante flutuar de mudanças interiores
que chega sempre, nem cedo nem tarde, mas sim no momento mais oportuno
e que a dada altura acaba por se manifestar de forma perceptivel ao nosso olhar.
Como um virar de estação que carrega consigo
uma vasta gama de experiências e novas predisposições,
como a força gravitacional de um contrato místico
que com a mesma força que cria e une,
também separa e modifica quando o objectivo acordado foi cumprido.
Há quem reaja mal no reconhecer deste facto e crie auto-sofrimento
de uma situação que é neutra por essencia,
outros simplesmente aceitam aquilo que é e seguem em frente
da forma mais fluida e harmoniosa que lhes é possivel.
É a primavera dos místicos a marcar o fim de um ciclo
e simultâneamente a dar início ao novo.
O momento do continuo espaço-tempo
que se encontra recheado de fragrâncias etéreas e energias subtis
que acordam a memória celular
de tempos de prazer e beleza, de criação e aventura.
É sem dúvida a minha altura favorita do ano!
Não deixa de ser curioso e talvez também um pouco paradoxal
que esta estação seja o momento oportuno para muitos adeuses,
mesmo que na sua grande parte
a palavra ADEUS acabe por nunca ser pronunciada.
Há almas que passam por este mundo de uma forma quase tímida,
talvez por provirem de paragens muito diferentes da então encontrada
e tudo aquilo que deixam na sua passagem
é um simples perfume da sua natureza,
imperceptivel e incompreensivel para muitos
e agradavelmente provocatória e enigmática para outros.
São simbolicamente as sementes dos místicos que aguardam por um solo fértil
para poderem germinar e catapultar a alma para uma nova percepção
para um novo mundo.
Ricardo Amaral